domingo, janeiro 27, 2008

"O pânico foi substituído pelo naufrágio do coração. Delaura não tinha sossego, fazia as coisas de qualquer jeito, flutuava, até a hora feliz em que fugia do hospital para ver Sierva María. Chegava ofegante à cela, encharcado pelas chuvas perpétuas, e ela o esperava com ansiedade, mas bastava o sorriso dele para lhe devolver a calma. Uma noite, foi ela quem tomou a iniciativa com os versos que aprendia de tanto ouvir: -"Quando paro a contemplar meu estado e ver os passos por onde me trouxeste..." - recitou. E perguntou com picardia: - Como continua?
- "Eu acabarei, pois me entreguei sem arte a quem me saberá perder e acabar" - disse ele."

Outro trecho de: Do amor e outros demônios - Gabriel García Márquez